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» Leitor novo? Recomendo iniciar pela 1ª temporada, capítulo (001).

(018 e 2/3)

Tudo aconteceu muito rápido. Você já deve ter ouvido essa frase em algum lugar. Talvez na televisão, em algum telejornal ou programete similar, quando uma vítima da metrópole é intimada a narrar um acidente de carro ou um assalto a banco. “Tudo aconteceu muito rápido”, elas dizem, e aí ficam olhando para o microfone ou para a câmera, confiando que o interlocutor capte toda a mensagem a partir de um simulacro vago de memória. É como eu me vejo agora, contando a vocês como as coisas rolaram ainda há pouco, entre meus travesseiros e meu edredom. E, como todo bom acidente que se preze, é difícil de explicar.

O que eu posso dizer desses treze minutos (ou foram duas horas, não tenho certeza, nós meio que perdemos a noção de espaço-tempo), é que eu descobri, finalmente, que não existe nada mais excitante do que trepar com alguém que você está... está... bem... (apaixonado, vamos, diga rapaz, você consegue, é sua grande chance, pela primeira vez na vida, pelo-amor-de-deus) com quem você está entremetido, engatado, grampeado. Ou, vai ver, toda essa frivolidade, essa agitação, esse calor, esse desgoverno, seja fruto da culpa. E o sexo dos culpados é o mais gostoso.

Aleluia. Aleluia. Ale-lui-a.

Não vou entrar em descrições, no tim-tim-por-tim-tim. Às vezes não pareço muito decente, no entanto o artigo oito dos meus princípios me acorrenta: eu não ventilo as intimidades com uma garota, a não ser quando invento coisas. Você já é bem grandinho, aposto que já participou de uma relação sexual e sentiu na pele como rola isso, ou já deve ter visto alguns vídeos didáticos na internet sobre o assunto ou, no mínimo, lido algumas cenas eróticas transcritas naqueles pulps bagaceiros de banca de jornal – Coleção Sabrina ou algo assim – crie vergonha na cara e leia algo do Henry Miller, Trópico de Câncer já seria bacana. Isso me poupará de bastante trabalho.

Me limitarei apenas a dizer que foi bom. Muito bom. Ótimo, até. Não, bom. Só bom, tecnicamente. Se estivéssemos no meio de uma orgia, não chamaríamos muita atenção: não teve aquela coisa ruidosa e orgásmica do tipo meu-deus-chamem-o-192-estão-arrancando-as-unhas-da-minha-vizinha, mas perto de tudo que poderia ocorrer (ou não ocorrer, ou ocorrer precocemente), eu até que me saí bem, eu não me decepcionei comigo mesmo. Talvez porque essa seja a singular área da minha porcaria de vida que eu consigo chegar mais próximo de ser um campeão – contando Juliete, agora tenho 23 amantes no currículo, e centenas de pornografias online; com isso, nem mais e nem menos, você também chega lá, com direito a receber um diploma da Universidade de Estudos Sexuais, com menção honrosa na disciplina optativa sobre galinhagem.

Então. Eu não fui rápido no gatilho, nem entediei a garota. Não fui lento e açucarado como eu temia ser, e também não dublei uma britadeira maçando a coitada. Não cometi nenhum gesto bizarro e inadequado e turbulento com o corpo de Juliete mas também não fiquei no feijão-com-arroz. Mergulhei em sua pele como um patinho afoito, ingênuo e alegre molha o bico no laguinho do parque, num dia quente. Tirei minhas provas quanto a todos os seus sabores femininos. E como era de se esperar, gostei. O resto foi leve, ternurento, divertido e caloroso. Sei lá, acho que Bob Dylan pode explicar melhor o clima, naquela “Just Like A Woman”.

Fora isso tudo, uma coisa realmente me chamou atenção. Algo que, se eu me conheço – e depois de completar bodas de prata me relacionando comigo mesmo, eu acho que posso me considerar um dos bons “santiagólogos” do mercado – essa frase, essa promessa ou essa confissão, não sei bem, isso vai marretar minha cabeça o restante do ano inteiro. Foi assim. Quieto e compenetrado, eu escorregava a calcinha de Juliete rumo aos joelhos (algodão, rosa-choque, básica, decentemente cavada do tipo não-estou-saindo-de-casa-para-dar-mas-pode-ser-que-aconteça-ninguém-é-de-ferro, com um sorrisinho fofo na bunda), assistindo seus olhos medrosos de menina-mulher escoltando meu gesto, quando a pequena me cravou as pupilas e disse:

– Você que é uma encrenca, garoto.

E aí, você sabe, foi. Aconteceu. E mesmo sabendo que o universo proíbe de se dar bem rapazes pobres, metidos a escritor, sub-empregados, tagarelas, não muito largos ou altos, com níveis de autoestima que lembram a temperatura da Finlândia, e tão bonitos e cacheados quanto o irmão débil mental do Orlando Bloom, meu conselho é não perder nunca as esperanças. Certo?

Amanhã o dia será lindo, é a inauguração da primavera. O inverno ficou pra trás. É tempo de fazer xixi assobiando, tomar banho de chuva, esconder os discos do Radiohead e descer os lances de escada rumo ao trabalho interpretando ritimadamente “What A Feeling” e outros clássicos de Flashdance.

continua...